DIÁRIO DE GUIA: Raphael Santos

Por: Raphael Kurz

Buenas, pessoal! Depois de quase 45 dias “de férias”, voltamos à campo e voltamos com tudo! O mês de janeiro foi o mês de organizar as coisas e dar uma “tocada” noutros projetos que temos. Foi um mês com pouco campo, mas com muito trabalho no computador. Estudando um pouco pra concluir logo o curso de guia de turismo e projetando novas coisas pra 2025 em diante. Enfim 2024 começou!!

Sobre a expedição:

Meu papel nessa expedição foi auxiliar o Raphael Santos, um guia paranaense que até então eu só conhecia pelo Instagram. Se não me engano, conversamos em setembro ou outubro do ano passado e acertamos essa viagem juntos. Como falei no início do paragrafo, eu fui um auxiliar de um dos melhores guias que eu tive o prazer de dividir os dias em campo, mas não vou dar muita moral pra ele agora não… Vou deixar pro final do texto.

Enfim, tínhamos previsto ficar juntos por 10 dias rodando por todo pampa, incluindo uma passagem rápida pelo Iberá na Argentina. No decorrer dos dias, acabamos conversando e fiquei 13 dias com o grupo e estendemos a viagem até a Serra Gaúcha.

O Rapha estava com um grupo do Taiwan e eles ficaram 34 dias rodando pela América do Sul, e eu fiquei responsável pela parte do Brasil.

Começamos nossa expedição no dia 12/02 e encerramos no dia 24/12 e rodamos quase 3 mil quilômetros.

 

Locais que visitamos.

Rodamos pelo Iberá, Parque do Espinilho, Campanha Gaúcha, Rio Grande, Lagoa do Peixe e pela Serra Gaúcha. Juntos observamos centenas de espécies, como você verá nesse texto aqui no blog.

Iberá e Espinilho

Decidi fracionar o post de acordo com cada região que visitamos, assim consigo destacar as espécies mais importantes de cada um desses habitats.

Nessa época do ano, a tesoura-do-campo (Alectrurus risora), não está com aquela plumagem bela e esbelta que todos adoram ver e fotografar, mas mesmo assim é incrível vê-la nos lindos campos nativos do Parque do Iberá. Além da tesoura, é sempre bom ver os caboclinhos que são muito abundantes naquela área.

Ano passado eu fui em fevereiro também e infelizmente a maioria dos indivíduos que encontrávamos eram fêmeas ou jovens e dessa vez foi a mesma coisa, vimos muitos caboclinhos, mas na sua maioria eram jovens ou algumas fêmeas, impossibilitando a identificação.

Mas como temos um pouco de sorte, conseguimos encontrar o raro caboclinho-do-pantanal (Sporophila iberaensis), motivo de muita festa pra mim e pro Rapha, porque esse é um dos targets mais importantes no Iberá.

Além dessas espécies, conseguimos ver a jacurutu (Bubo virginianus) e é claro que encontramos o cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata). Era um casal com um comportamento muito diferente do tradicional, possivelmente estavam construindo ninho, pois iam e voltavam com frequência pra mesma árvore.

No Iberá, além das aves, é possível ver vários mamíferos e até mesmo serpentes, como dessa vez. Nas fotos logo abaixo, você poderá ver algumas espécies que encontramos por lá.

No Parque do Espinilho ficamos por pouco tempo, mas o suficiente pra ver as aves que queríamos. Conseguimos encontrar o coperete (Pseudoseisura lophotes), o lenheiro (Asthenes baeri) e reencontrar os cardeais-amarelos, que dessa vez facilitaram muito nossa vida nos permitindo uma boa aproximação e consequentemente, boas fotos.

Algumas espécies registradas no Iberá e no Espinilho:

Campanha Gaúcha

Na região da Campanha Gaúcha tivemos ótimas surpresas, começando com o caboclinho-de-papo-escuro (Sporophila ruficollis), em Santana do Livramento. Enquanto nos deslocávamos do Espinilho pra Bagé, resolvi dar uma parada numa área que eu já tinha visto essa espécie há alguns anos atrás. Desci do carro e saí caminhando pra tentar encontrá-lo, enquanto isso o Rapha ficou com o grupo registrando outras espécies. Caminhei por volta de 15 minutos e comecei a ouvir a vocalização melodiosa típica desse caboclinho. Pra alegria geral, diferente do que vimos no Iberá, dessa vez era um macho adulto com a plumagem linda. O bichinho vocalizava bastante e fez a alegria de todo grupo.

Já em Aceguá, conseguimos ver o caminheiro-de-unha-curta (Anthus furcatus), espécie bem tranquila de encontrar nesses campos “nativos” que ainda não viraram soja. Além do caminheiro, conseguimos ver o amarelinho-do-junco (Pseudocolopteryx flaviventris) e o bate-bico (Phleocryptes melanops). Espécies super importantes pra lista de espécies do pessoal.

Em Bagé outra baita surpresa e alegria, rolou um registro bem legal do caboclinho-de-chapéu-cinzento (Sporophila cinnamomea). É bem chato de encontrá-los por aqui no final de fevereiro, mas conseguimos ver todos caboclinhos que procurávamos na viagem, isso foi 10!

Alguns registros feitos na região da Campanha Gaúcha:

                          

Litoral – Rio Grande e Lagoa do Peixe

Na área litorânea, é meio obvio que iríamos ver e procurar aves do litoral, não é mesmo? Uma pena que nessa época os banhados e campos estão bem secos, fazendo com que dificulte bastante encontrarmos marrecas e outras aves aquáticas, como o socoí-amarelo (Ixobrychus involucris), que era um dos objetivos da galera nessa expedição. Por sorte, deu pra vê-lo rapidamente em Aceguá, mas em Rio Grande não conseguimos.

Na verdade esse dia em Rio Grande foi bem fraco, havia uma possibilidade de ciclone e as aves estavam todas bem tímidas, não respondiam muito ao playback e algumas sequer apareceram na manhã que ficamos aqui em Rio Grande.

São José do Norte fica no caminho pra Lagoa do Peixe e em virtude disso, resolvemos dar uma passada na praia pra ver o que encontrávamos. Pra nossa surpresa, havia bastante movimentação de aves e conseguimos ver algumas espécies legais, com destaque pro raro maçarico-de-bico-torto (Numenius hudsonicus), espécie bem incomum no sul do Brasil.

Na Lagoa do Peixe rodamos um pouco e além das milhares de limícolas, conseguimos ver o papa-piri (Tachuris rubrigastra), uma das mais belas aves do Rio Grande do Sul, mas o destaque ficou por conta da narceja-de-bico-torto (Nycticryphes semicollaris). Espécie muito difícil de se encontrar e dessa vez conseguimos encontrá-la. Obviamente deu trabalho, precisei entrar descalço dentro do banhado para tentar fazer ela voar e nesse meio-tempo, a galera tentava registrar ou até mesmo apenas observar alguns detalhes (pra galera do binóculos).

Foi incrível, a galera fez boas fotos dessa espécie que eu considero um fantasma dos banhados!

Alguns registros feitos na região litorânea:

Serra Gaúcha

Essa parte da viagem foi uma das mais legais pra mim, pois eu adoro a Serra Gaúcha e a Mata Atlântica, já que foge um pouco das espécies que estou acostumado a encontrar aqui no Pampa. O Rapha manja muito da região, pois já visita São Francisco de Paula há uns bons anos.

Como eu estava junto, pude colaborar dando algumas dicas de locais que eu já conhecia e ele incrementou com sabedoria para que tentássemos encontrar todas espécies que procurávamos.

Obviamente visitamos a FLONA, onde conseguimos ver uns “bichos muito bons”, como o sabiá-cica (Triclaria malachitacea) e o catraca (Hemitriccus obsoletus), espécie típica das matas de araucária.

São Francisco de Paula é muito massa, porque há muitos ambientes legais pra explorar. Desde as matas até os campos, onde podemos encontrar uma diversidade gigante de espécies.

Nos campos, conseguimos ver praticamente tudo que procurávamos, como o veste-amarela (Xanthopsar flavus), a águia-serrana (Geranoaetus melanoleucus), o caboclinho-de-barriga-preta (Sporophila melanogaster) e o pedreiro (Cinclodes pabsti), espécie incrível que encontramos por aqui.

Em outros ambientes, tive a oportunidade de enfim, registrar o papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), espécie que já tinha visto em outras oportunidades, mas dessa vez fui com o Rapha num local muito especial onde conseguimos ver algumas dezenas de indivíduos.

Mas a ave mais especial que vimos em São Chico foi o arapaçu-de-bico-torto (Campylorhamphus falcularius), que bichão bem massa! E deu showwww!
Na mesma área, conseguimos ver em duas oportunidades o gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus), mas infelizmente não rolou foto. Mas enquanto escrevo aqui, lembro nitidamente dele sobrevoando a mata, muito próximo da copa das árvores. Possivelmente ele tenha alçado voo ao notar nossa aproximação na trilha…

Além de São Chico, fomos em Cambará do Sul e Vacaria com a expectativa de ver mais algumas espécies, como o curiango-do-banhado (Hydropsalis anomala), (vimos, mas não deu foto).

Alguns registros feitos na Serra Gaúcha:

Como rodamos vários dias e visitamos diversos ambientes, obviamente a quantidade de espécies observadas foram acima do normal. Quem acompanha nossas expedições, sabe que geralmente a gente vê em média 150 espécies. Dessa vez foi diferente, quase alcançamos a marca de 300 espécies observadas. Sem duvidas, uma das viagens mais incríveis que já fiz aqui pelo sul. Dá uma olhada no nosso Trip Report do eBird abaixo:

Nosso TripReport no eBird.

Como falei acima, foi uma das viagens mais legais que tive a oportunidade de participar e ajudar. Não apenas pelas aves, mas pela experiência que o Raphael me proporcionou nesses dias juntos. Enfrentamos muitos desafios juntos e resolvemos muitos problemas durante esse percurso. Tem muita gente que acha que a gente passa o dia só procurando passarinho, mas isso é o básico do básico do nosso trabalho, a quantidade de problemas que temos que resolver quase que imediatamente é o que faz a diferença pra uma viagem andar bem. Pneu furado, chuva inesperada, conseguir restaurante decente, reservar hotel, dirigir por horas e horas são apenas alguns dos detalhes que temos que resolver dia após dia (em campo). Mas enfim, isso é super comum no nosso trabalho e esses desafios que fazem valer o dia-a-dia. Nós não temos rotina, cada dia estamos num lugar, com um objetivo diferente e com desafios pra serem vencidos. E posso afirmar que sim, vencemos juntos todos eles nesses dias e conseguimos ter muito sucesso na expedição.

Agradeço ao Rapha por tudo. Em primeiro por ter confiado no meu trabalho e em segundo por ter me dado a oportunidade de conduzir com ele esse grupo desafiador. Aprendi muito e com certeza colocarei muitas coisas novas em prática. É muito bom ter a chance de ficar tanto tempo ao lado de guias mais experientes, impossível não sair motivado e com mais conhecimento pra praticar nas próximas viagens.

Obrigado pelas sábias conversas a noite e aproveito pra pedir perdão em público pelos meus roncos. Isso só acontece quando eu tô muito cansado kkkkkkk

Brincadeira!!

Raphael Santos e Raphael Kurz, a dupla.

 

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