DIÁRIO DE GUIA: Maurício Weingartner

Por: Raphael Kurz

Buenas, pessoal! Bora falar de mais uma passarinhada por aqui!! Fim de ano chegando e com ele, as lembranças desse baita 2023 que tivemos por aqui. Nessa semana entre o natal e o ano novo geralmente é o momento certo pra desacelerar e começar a planejar os próximos passos para o ano de 2024, mas vou deixar isso pros primeiros 15 dias de janeiro. Amanhã parto pra última viagem do ano e vamos passar 2 dias na Lagoa do Peixe atrás de passarinho (como sempre).

Mas enquanto o amanhã não chega, hoje vou aproveitar e colocar o blog em dia e escrever sobre essa última expedição por aqui.

Sobre a expedição:

O Maurício entrou em contato comigo em novembro e tínhamos justamente as mesmas datas disponíveis para essa passarinhada e que bom que conseguimos encaixar tudo como foi planejado.

Ficamos 7 dias juntos (12 ao 18 de dezembro) e visitamos Rio Grande, a região da Campanha Gaúcha (Pinheiro Machado, Bagé e Aceguá) e também fomos no Parque Estadual do Espinilho, em Barra do Quaraí.

Infelizmente o clima não facilitou nossa vida. Dezembro geralmente não chove por aqui, mas esse El Niño tem deixado “tudo muito louco” e geralmente temos que tentar contornar uma ou outra intempérie climática. Mas mesmo assim, foi muito produtivo e conseguimos ver a maioria das espécies que eram nossos objetivos.

Campanha Gaúcha

Que saudade que eu estava de visitar as áreas de campo da região da Campanha Gaúcha. Fiquei quase 1 mês sem retornar e confesso que estava sentindo falta de ver espécies como o arredio-do-gravatá (Limnoctites rectirostris) e o tio-tio (Phacellodomus striaticollis), que foram nossos objetivos principais na rápida passagem por Pinheiro Machado. Infelizmente o bando de veste-amarela (Xanthopsar flavus) que nidificava por ali, não está mais aparecendo. A área de brejo com gravatás foi muito pisoteada pelo gado, fazendo com que ficasse muito rala a vegetação. Possivelmente tenham se mudado pra alguma área ali perto, que ainda não consegui descobrir.

Em Bagé, aproveitamos uma tarde e fomos ver o caboclinho-de-chapéu-cinzento (Sporophila cinnamomea), espécie que é sempre legal de se encontrar nessa época do ano por aqui. Na região da Campanha, dedicamos mais tempo no município de Aceguá. Por ali, vimos o caminheiro-de-unha-curta (Anthus furcatus), espécie com ocorrência restrita ao Rio Grande do Sul. Além dele, outra espécie massa que apareceu foi o caboclinho-de-papo-branco (Sporophila palustris).

A parte complicada foi enfrentar o excesso de água nas estradas do interior de Aceguá. Dessa vez achei que ficaríamos atolados, mas como tomamos alguns cuidados, conseguimos sair tranquilamente (nem tão tranquilos) dessas poças de água e de lama.

Algumas espécies registradas na Campanha Gaúcha:

Rio Grande

Aqui em Rio Grande, ficamos apenas 1 dia. Mas foi O DIA! Rio Grande segue sendo (pra mim), o melhor município pra se observar/fotografar aves aqui no Rio Grande do Sul. Além da diversidade da avifauna, os ambientes também são um destaque a se pontuar. Podemos encontrar banhados de palha, de junco, áreas campestres, áreas com marismas, lagoas, dunas, praias e etc. Sabemos que quanto maior o número de ambientes, maior a probabilidade de encontrar algumas espécies.

Na passarinhada com o Maurício, fomos pontualmente atrás de algumas aves que ele procurava e mais uma vez, a chuva tentou nos atrapalhar.

Na parte da manhã, conseguimos ver muito bem o socoí-amarelo (Ixobrychus involucris), que já está começando a ficar mais difícil nessa época de agora. Encontramos apenas um indivíduo, que já foi mais que o suficiente também. Outra ave interessante que vimos foi o estorninho (Sturnus vulgaris). Sim, é uma exótica invasora, mas como já está na lista de espécies do Brasil, a galera curte ver.

Em 2021, eu havia descoberto um ninho deles e fazia um bom tempo que eu não parava na área pra ver se estavam por ali novamente. Resolvi dar uma parada e logo vimos um adulto levar comida pro ninho. Ficamos escondidos por cerca de meia hora e conseguimos ótimos registros.

O estorninho é muito difícil de se registrar, é uma ave muito arisca por aqui e quando encontramos o ninho fica bem mais fácil, como nesse caso.

Na parte da tarde, fomos pra outra área do município e por lá vimos o boininha (Spartonoica maluroides), outra ave restrita as marismas aqui do Rio Grande do Sul e conseguimos encontrar a andorinha-do-barranco (Riparia riparia), que como sempre estava junto das andorinhas-de-bando (Hirundo rustica).

Alguns registros feitos em Rio Grande:

Parque Estadual do Espinilho

Ah, como é bom ir até o Espinilho… As aves, a vegetação e os ambientes sempre chama muito a atenção de quem vai pela primeira vez e também atraem aqueles mais experientes que já foram várias vezes (que é meu caso).

Dessa vez foi um desafio muito grande, pois o clima não colaborou em nada nossa passagem por lá. Além do tempo, tivemos outros imprevistos bem chatos, que vou acabar relatando aqui.

Quando vamos para o Parque, nós SEMPRE andamos acompanhados de algum monitor ou até mesmo de algum guarda-parque ou gestor. Ou seja, é expressamente proibido ir no Parque sem acompanhamento de algum desses profissionais. E outra coisa que gosto de pontuar, é que sempre agendamos as visitas com bastante antecedência, pro pessoal conseguir se organizar e nos receber com todo zelo, como sempre fazem.

SÓ QUE… Nesses últimos dias aconteceu algo muito chato que atrapalha e muito no nosso trabalho de guia. Há uma propriedade próxima do Parque onde há ocorrência do corredor-crestudo (Coryphistera alaudina) e sempre que vamos lá, estamos acompanhados do pessoal do Parque. Pois há um acordo entre o gestor e o pessoal dessa propriedade.

No início de dezembro, um guia/observador acabou “dando um migué” na portaria e acessou essa propriedade. Até então ninguém sabia de nada, mas quando fomos combinar nossa ida lá, simplesmente fomos barrados e não conseguimos adentrar a propriedade. A justificativa foi algumas pessoas haviam entrado lá e acessaram áreas que não podem ser acessadas. Ou seja, esse observador e guia acabaram prejudicando um acordo que é feito há anos entre o Parque e a propriedade e isso prejudicou nossa entrada por lá.

Enfim, aproveito pra dizer pra ti que tá lendo:

Não entre em propriedade privada sem autorização. Mesmo sabendo que outras pessoas entram, não entre! Muitas vezes essa malandragem e desespero por fotografar alguma espécie, acabam atrapalhando muito o trabalho de quem faz tudo da maneira correta. Não é porque tem um ponto no eBird que tem que ir atrás correndo de espécie A ou B. É simples, faça sempre as coisas da maneira certa! Todo mundo sai ganhando.

Mas enfim, sobre nossa ida no Espinilho, conseguimos ver o cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata) e dessa vez foi relativamente fácil encontrar o casal. Além dele, vimos algumas outras endêmicas e devido a essa instabilidade climática, não conseguimos explorar o Parque da maneira que queríamos, pois não podíamos sair muito longe da sede, já que havia risco de raios e fortes chuvas.

As surpresas positivas ficaram por conta das duas novas espécies registradas por nós para o município de Barra do Quaraí, a andorinha-do-barranco (Riparia riparia) e a andorinha-de-dorso-acanelado (Petrochelidon pyrrhonota). Estavam juntas e foi um momento muito legal pra nós dois!

Graças ao Maurício, fiz um lifer nessa viagem. Ele teve uma ótima percepção e encontrou um bacurau-norte-americano (Chordeiles minor), espécie que eu procuro há anos no Parque. Mas agora consegui registrar, valeu Maurício!!

Alguns registros feitos no Espinilho e seu entorno:

Mesmo com o tempo bem instável, conseguimos ver muitas espécies nessa viagem. Foram 183 espécies em pouco mais de 6 dias juntos. Obviamente os destaques foram as endêmicas e algumas delas eu citei no decorrer desse post.

Resumo do nosso TripReport no eBird.

 

O Maurício é daqueles parceiros que a gente quer que more mais perto pra termos mais momentos juntos. O cara é parceiro pra cerveja, pra passarinhada e até mesmo pro churrasco que acabamos fazendo em Barra do Quaraí. Além disso, tivemos ótimos papos e trocamos muitas informações de passarinhadas por outros cantos do Brasil. Com certeza nos encontraremos em breve noutras passarinhadas nesse Brasilzão.

Obrigado pela parceria e pela confiança no meu trabalho, meu amigo! Até a próxima!

Bora passarinhar conosco no início de 2024? Ainda temos disponibilidade na agenda na segunda quinzena de janeiro. Se você quiser aproveitar essa janela e passarinhar conosco, a oportunidade é excelente! Geralmente não trabalhamos em janeiro devido ao calor excessivo e seca dos últimos dois anos, mas como tem chovido bastante, a possibilidade é alta de ter muitas aves na Lagoa do Peixe nesse verão.

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