Por: Raphael Kurz
Buenas pessoal, bora falar sobre mais uma expedição por aqui! Dessa vez eu confesso que estou até surpreso, já que algumas pessoas até me perguntaram quando eu iria escrever sobre a ida ao Iberá! É raro acontecer, mas as vezes acontece e isso nos deixa um pouco mais motivado pra escrever aqui.
Enfim, novembro acabou! Que mês cumprido, cheio de desafios, expedições e é claro, cheio de belas e raras espécies que encontramos aqui no sul do país.
Agora é começar a tirar (um pouco) o pé do acelerador que 2024 tá chegando e com ele, várias novidades por aqui!
Sobre a expedição:
No início desse ano, mais precisamente em fevereiro eu estive no Iberá com o Leonildo, com o Fabiano e com a Silvia Linhares. Sabíamos que a época não era das melhores, mas mesmo assim fomos. Na época estávamos passando por um período de seca extrema no sul do Brasil e no Iberá a situação não era diferente. Mas essa ida em fevereiro serviu pra ver e aprender um pouco sobre esse lugar incrível que eu sempre quis conhecer.
Na época, o que mais me chamou a atenção foi os amplos campos nativos e neles, encontramos centenas de caboclinhos. A maioria deles eram jovens que estavam preparando-se para a migração naquele mês mesmo.
Tive a oportunidade de conhecer um pouco desse local incrível que é o Parque Nacional del Iberá.
Pouco depois que cheguei, encontrei o Rogério para uma passarinhada aqui na Lagoa do Peixe e conversando com ele, decidimos ir agora, no final de novembro pra lá. Outubro e novembro são excelentes épocas para visitar o Parque, pois os caboclinhos já estão “com tudo” e a tesoura-do-campo (Alectrurus risora) está com a plumagem bonita, diferente do que vi em fevereiro.
Em abril, recebi o Rudimar e comentei que iria ir com o Rogério e ele ficou afim de ir conosco. Resumindo: Conseguimos organizar essa expedição e fomos juntos para esse local incrível.
Obviamente, aproveitamos e fomos até o Parque Estadual do Espinilho antes de entrarmos na Argentina e quando voltamos, rolou até outros lifers pra eles no caminho de volta…
Bora ler todos os detalhes dessa viagem que aconteceu do dia 22 ao dia 27 de novembro?
Parque Estadual do Espinilho, Uruguaiana e Rosário do Sul
Então vamos lá, bora contar um pouco dessa viagem! O Rogério e o Rudimar já haviam visitado o Espinilho noutras oportunidades, mas algumas espécies ficaram faltando na lista deles e em virtude disso, decidimos dedicar um dia da nossa viagem no Parque. No caminho de Santa Maria para Barra do Quaraí, entramos numa estrada que eu já conheço há alguns anos e por ali foi registrado o caboclinho-de-papo-escuro (Sporophila ruficollis), o primeiro caboclinho da viagem. Quando voltamos da Argentina, entramos na mesma estrada visando melhorar o registro da espécie e por sorte, encontramos um ninho sendo construído por um casal na beira da estrada. Prontamente fotografei e mandei para um ornitólogo que está fazendo um estudo sobre a reprodução dessa espécie no extremo oeste do estado. Ele já até foi lá e registrou o ninho com um ovo dentro. Mostrando que logo logo teremos filhotes por ali!!
Mas seguindo pro Espinilho… Pegamos uma manhã praticamente inteira de chuva, o que nos impossibilitou de entrar no Parque, mas aproveitamos e fomos dar umas voltas de carro nas estradas que são próximas do Parque e que geralmente se vê bastante coisa, mesmo com chuva.
Na parte da tarde, já com o tempo firme, adentramos o território do Parque, sempre acompanhados de um guarda-parque ou monitor.
O objetivo era apenas um só: Fotografar o tio-tio-pequeno (Phacellodomus sibilatrix), espécie que eu considero relativamente fácil de encontrar, já que tem um território bem definido na área do Parque. Mas e aí, acha que ele apareceu ou não? De jeito nenhum! Bichinho nem cantou, impressionante!
Frustração total, mas faz parte do jogo…
Perdemos por um lado, mas ganhamos de outro. Durante a caminhada no Parque estávamos observando um coperete (Pseudoseisura lophotes), quando eu escuto um chamadinho que me deixou intrigado. Ninguém havia escutado e eu fiquei com aquele som na minha cabeça. Pra garantir que eu não estava ficando louco, resolvi tocar o playback e ver se existia a chance de ser o que eu imaginava ser…
Toquei uma vez, toquei duas, quando vê… Pá! Apareceu o raro e emblemático papa-lagarta-cinzento (Micrococcyx cinereus)! Um dos cuculídeos mais raros de serem vistos aqui no sul do Brasil. Felizmente ele permitiu bons registros.
Encerramos nossa curta passagem pelo Espinilho felizes por esse baita encontro e na expectativa do que viria nos próximos dias…
Sei que vai ficar bem fora de ordem, mas em Rosário do Sul, encerramos nossa expedição com o 7º caboclinho registrado, o caboclinho-coroado (Sporophila pileata)!
Algumas espécies registradas ainda no Brasil, nos municípios de Uruguaiana, Rosário do Sul e Barra do Quaraí
Parque Nacional del Iberá
Como o objetivo principal da viagem era ver as espécies do Iberá, dedicamos mais tempo na região. Escrevendo e relembrando aqui, eu lembro o quanto aquela região é rica em vida! Diversidade de mamíferos, aves e o que mais chama a atenção são aqueles campos nativos intactos. Coisa que são quase impossíveis de serem encontradas aqui no Rio Grande do Sul, infelizmente.
Bueno, no caminho até a Colônia Carlos Pellegrini, fomos parando em alguns pontos e fotografando os caboclinhos, eram diversos indivíduos e o objetivo principal era encontrar o raro caboclinho-do-pantanal (Sporophila iberaensis). Na nossa primeira tarde vimos alguns indivíduos de tesoura-do-campo (Alectrurus risora) e algumas outras espécies mais comuns.
A primeira manhã foi incrível, ainda era muito cedo e estávamos no campo esperando abrir pra visitação a área que queríamos visitar. Como estávamos ali parados sem fazer nada, resolvi tocar o playback do caboclinho-do-pantanal (Sporophila iberaensis) pra ver se ele apareceria. Não deu 15 segundos e o bichinho veio e pousou na minha frente. Prontamente chamei os guris que ainda estavam no carro arrumando os equipamentos. Foi um sentimento incrível, já que era uma das espécies que mais queríamos encontrar. Durante a manhã fotografamos várias espécies, como o saí-canário (Thlypopsis sordida), a tesoura-do-campo (Alectrurus risora) e outros mais comuns.
Manhã excelente, com duas espécies muito bem registradas. Na tarde, fomos pra outra área e por lá vimos o cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata), o corredor-crestudo (Coryphistera alaudina) e um show do papa-lagarta-acanelado (Coccyzus melacoryphus). Impressionante e quantidade deles nesse ano.
No meio da tarde, o Rogério sugeriu irmos numa área que ele tinha visto antes de sair de casa e como estávamos com tempo, fomos ali pra ver o que poderia ter.
Como era uma área de banhado, me senti em casa e comecei a imaginar tudo que poderia aparecer por ali. Tivemos duas surpresas incríveis. Surpresas não só pra nós, mas até mesmo pra observadores locais. Encontramos a sanã-amarela (Laterallus flaviventer) e o socoí-vermelho (Ixobrychus exilis), duas aves típicas do ambiente que estávamos. Encerramos o primeiro dia com muita festa!
O texto vai ficar grande, mas faz parte… Hahahah vou tentar dar uma resumida.
No segundo dia, tínhamos um objetivo bem claro pra manhã, tentar ver o pica-pau-de-barriga-preta (Campephilus leucopogon), outra espécie emblemática e rara. Fomos direto na área que ele podia ser visto e assim que estacionamos o carro, um indivíduo vocalizou exatamente na árvore que estávamos parados com o carro embaixo. Inacreditável!
Foi aquela correria toda pra descer e fazer fotos, mas com calma e dedicação, deu pra ver o casal e fazer bons registros. Ainda nessa manhã encontramos o caboclinho-de-sobre-ferrugem (Sporophila hypochroma), outra espécie com rara ocorrência aqui no Brasil.
Na tarde, fomos dar uma volta de barco e basicamente só melhoramos o registro do socoí-vermelho.
Nos dois primeiros dias já havíamos visto tudo que podíamos ver no Iberá. Todas espécies que fomos atrás, encontramos. Como tínhamos um dia livre, resolvemos rodar e tentar ver tudo que fosse possível, mas sem pretensão alguma de achar espécies raras. Era meio que um “dia livre”. Olhando assim, parece que ficamos um dia a mais lá, sem necessidade. Mas é que os dois primeiros dias foram tão incríveis que conseguimos ver tudo de maneira relativamente tranquila.
Nesse último dia, conseguimos fazer um registro que acredito que seja inédito para o Parque. Registramos o pica-pau-pequeno (Veniliornis passerinus). Eu nem imaginava que essa espécie ocorria por ali e chamei a atenção dos guris para que documentassem. Quando mostrei pro Roque, que trabalha no Parque e também guia por lá, ele ficou muito surpreso e disse que nunca havia encontrado a espécie ali.
Nesses últimos dias recebi algumas mensagens no eBird pra confirmar a localização e ver se postei certo, porque chamou muito a atenção mesmo. Ainda bem que registramos!!
Na tarde, ainda rodamos atrás de outro pica-pau, dessa vez o pica-pau-chorão (Veniliornis mixtus), que o Rogério queria melhorar o registro. O bichinho demorou pra aparecer, mas quando apareceu, deu show!!
Alguns registros feitos no Iberá:
Mamíferos do Iberá
Andar procurando passarinho é incrível, mas passarinhar e ter a possibilidade de ir avistando dezenas de mamíferos é incrível e sempre chama a atenção. Em fevereiro, tive a oportunidade de ver um lobo-guará no Iberá.
Dessa vez haviam muitos cachorros-do-campo, veados-campeiros, capivaras e cervos-do-pantanal. Embelezando demais aqueles lindos campos que são cheios de vida.
Alguns registros de mamíferos:
Caboclinhos
Campos nativos, úmidos e preservados são sinônimo de caboclinhos. Aqui no Rio Grande do Sul temos que lutar atrás de alguma ou outra área que ainda esteva preservada pra ver os caboclinhos e geralmente as espécies “não se misturam”.
Como no Iberá é tudo muito cuidado e preservado, é possível ver várias espécies deles. Na nossa viagem vimos 5 no Iberá e 2 no Brasil.
Por ordem das fotos abaixo, a identificação de cada um deles:
Foto 1: caboclinho-de-barriga-vermelha (Sporophila hypoxantha)
Foto 2: caboclinho-de-chapéu-cinzento (Sporophila cinnamomea)
Foto 3: caboclinho-de-papo-branco (Sporophila palustris)
Foto 4: caboclinho-de-sobre-ferrugem (Sporophila hypochroma)
Foto 5: caboclinho-do-pantanal (Sporophila iberaensis)
Algumas fotos deles:
A bela tesoura-do-campo
Falar de Iberá é falar da tesoura-do-campo, não é mesmo? É a ave-símbolo do Parque. Todas as placas mostram uma foto ou algum desenho dessa espécie icônica que embeleza aqueles campos. Em fevereiro havíamos visto alguns indivíduos, mas nenhum com a plumagem fenomenal que os machos se encontravam agora.
Era a principal espécie que os guris queriam ver e deu pra ver muuuito bem e em algumas oportunidades, ele pousava na nossa frente “muito do nada”. Então deu pra fazer excelentes fotos.
Alguns registros dessa beleza:
Fui fazendo listas em todos os locais que parávamos e no final chegamos a marca de 177 espécies observadas. Muitos lifers na sacola e com o sentimento que a viagem foi um sucesso.
Encerro esse post agradecendo ao Rogério e ao Rudimar pelos excelentes dias que tivemos juntos. Obvio que ver e encontrar os passarinhos facilitam muito e deixam tudo mais leve. Mas eu acredito que pras coisas acontecerem como a gente deseja, temos que ir para as viagens, passarinhadas e etc, de maneira leve e tranquila. Que foi o que aconteceu nessa viagem.
Passamos por perrengues (três vezes o pneu furou), mas em nenhum momento houve reclamação e desentendimentos. É muito legal quando as coisas saem redondinhas assim. Realmente fica tudo mais fácil.
Mais uma vez: Obrigado guris, essa viagem foi importante demais pra mim e bom saber que conseguimos juntos, encontrar tudo aquilo que havíamos programado. Além de encontrar todas espécies-alvo, conseguimos algumas espécies bem raras, como o papa-lagarta-cinzento e a sanã-amarela.
Peço perdão pelo texto um pouco mais longo que o convencional, é que eu tentei deixar um pouco mais detalhado mesmo. 1 hora e 15 escrevendo, espero que alguém leia hahahaha
2024 está chegando e com ele, novos desafios para nós. Estamos com a agenda aberta para o ano aque vem, com uma janela de disponibilidade para a segunda quinzena de janeiro (ótima época para irmos para a Lagoa do Peixe ver as aves limícolas). Falando em Lagoa do Peixe, temos apenas 4 vagas para nosso WorkPhoto em março! Clica no banner abaixo e veja todos os detalhes desse evento incrível.
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