Por: Raphael Kurz
Bora falar de passarinho mais uma vez por aqui! Seguimos atrasados nos posts, mas como cheguei do campo um pouco mais cedo e com um pouco de disposição, vou escrever brevemente sobre essa baita expedição com o Julio e o Xavier.
Sobre a expedição:
É a segunda vez que tenho a honra de receber essa dupla de amigos aqui no nosso estado. O Xavier é um espanhol que mora em Porto Alegre há alguns anos e o Júlio mora na Espanha e é um dos seus melhores amigos, e vem para o Brasil todos os anos e geralmente eles marcam uma passarinhada e nesse ano saímos juntos mais uma vez.
Quase desmarcamos por causa da logística difícil dos voos até Porto Alegre, mas conseguimos manter o programa e seguimos com nossa expedição.
Ficamos juntos por cerca de 5 dias (12 ao 16 de julho) e rodamos pela região da Mata Atlântica, nos municípios de Itati e Três Forquilhas e também subimos pra Serra, em São Francisco de Paula.
Foi bem legal e desafiador acompanha-los nesses locais que eu visito há algum tempo, mas dificilmente é destino das guiadas… Ainda.
Bora falar sobre a passarinhada? Leia até o final do post!
Itati e Três Forquilhas
É sempre bom visitar essa região e sempre me remete há bons momentos… Uns 45 dias antes da nossa expedição, estive passarinhando por ali na companhia do Fernando Jacobs e juntos conseguimos ver várias espécies incríveis em pontos “não convencionais” para observação de aves. Juntos, exploramos alguns lugares e conseguimos ver uma bicharada massa e agora com o Julio e com o Xavier, pude retornar nessas áreas e ver ainda mais espécies, o que foi massa demais.
Tínhamos alguns objetivos bem claros, encontrar e registrar as aves que só aparecem naquela região do estado. Algumas espécies bem difíceis, como a catirumbava (Orthogonys chloricterus) e a araponga-do-horto (Oxyruncus cristatus) estavam nessa lista de prioridades.
Na nossa primeira tarde, fomos numa área próximo de onde estávamos hospedados e conseguimos ver o papa-formiga-de-grota (Myrmoderus squamosus), espécie que estava na lista de espécies-alvo.
Passamos praticamente todo tempo em Três Forquilhas e conseguimos ver muitas espécies incríveis. A catirumbava (Orthogonys chloricterus) incrivelmente apareceu de forma totalmente inesperada, pena que não deu pra fazer nenhum registro legal, em contrapartida a rara araponga-do-horto (Oxyruncus cristatus) apareceu em um lugar bem inesperado, eram cerca de três indivíduos vocalizando muito e alimentando-se nas frutas do palmito-jussara. Ficamos um bom tempo observando-as e registrando essa espécie emblemática da Mata Atlântica. Nessa época do ano, a frutificação do jussara atrai diversas espécies e conseguimos ver um corocoxó (Carpornis cucullata) aproveitando e comendo as frutas também.
Nessa mesma manhã, também encontramos o capitão-de-saíra (Attila rufus), outra espécie que é encontrada praticamente só nessa região do nosso estado.
Ainda em Três Forquilhas, mas noutra área, conseguimos ver alguns bandos mistos com arapaçus, limpa-folhas e outras aves que costumam se aglomerar nesses bandos atrás de alimento.
O limpa-folha-coroado (Philydor atricapillus) e o limpa-folha-de-testa-baia (Dendroma rufa) são duas espécies que geralmente são encontradas nesses bandos e além deles, conseguimos registrar o inquieto flautim (Schiffornis virescens) e o exuberante surucuá-dourado (Trogon chrysochloros).
Em Itati, aproveitamos a tarde e fomos numa área com outro ambiente, menos florestal e mais “de borda” e por ali deu pra ver o miudinho (Myiornis auricularis), o trepadorzinho (Heliobletus contaminatus) e a linda saíra-militar (Tangara cyanocephala).
Algumas espécies registradas em Itati e Três Forquilhas:
Serra Gaúcha
Nossos últimos dias foram na região da Serra Gaúcha e também rendeu boas surpresas… A região da Serra Gaúcha é um dos locais mais importantes pra se observar aves no nosso estado e no Brasil, já que há diversas espécies endêmicas das matas de araucária e dos campos de cima da serra.
Na nossa primeira noite, rodamos atrás da coruja mocho-diabo (Asio stygius) e não a encontramos. Mas como tínhamos mais uma noite, decidimos deixar pra irmos atrás noutra área. Mas acredita que nem precisou? No meio da madrugada (3h da manhã), o Xavier levantou pra ir no banheiro e ouviu uma vocalizando literalmente na janela da nossa hospedagem. Ele me acordou, pediu mina lanterna e foi pra rua tentar o registro. Estava um frio do cão, mas eu não resisti e mesmo com os pés descalços, fui atrás da coruja com eles. Nem precisou muito, pois ela estava nos esperando no pátio da casa. Foi até difícil voltar a dormir depois, por causa da adrenalina!!!!
Ir em São Francisco de Paula e não visitar a FLONA é inadmissível. Por isso, dedicamos uma manhã inteira por ali e conseguimos ver diversas espécies incríveis, como o catraca (Hemitriccus obsoletus), uma pequena ave que é encontrada nessas matas de Araucária. Outra espécie que o Julio queria muito ver era o vira-folha (Sclerurus scansor), e encontramos alguns indivíduos, mas como todos sabem, é uma espécie que é bem difícil de se registrar… Mas eu falei pra eles que não valia a pena insistir quando o indivíduo não facilitava, então seguimos a trilha e procurando algum que “desse mole”, até que conseguimos… O bichinho facilitou e “deu fotão”!!!
Nas áreas de campo, rodamos sem muito sucesso. Infelizmente o pessoal costuma colocar fogo nessas áreas campestres pra facilitar na hora de plantar a lavoura, com isso havia muita fumaça na região e a bicharada estava com baixa atividade. De “importante”, o que apareceu foi o pedreiro (Cinclodes pabsti), espécie endêmica dos campos de cima da serra.
Na noite, também conseguimos ver a coruja-listrada (Strix hylophila), outra espécie que era prioridade na nossa expedição. Na última manhã percorremos outra mata, onde fui em fevereiro com o amigo e guia Raphael Santos e por ali também havia pouca atividade vocal das aves, dificultando um pouco, mas mesmo assim conseguimos ver umas espécies que procurávamos, como o grimpeirinho (Leptasthenura striolata) e o matracão (Batara cinerea), que foi lifer fotográfico pra mim.
São Francisco de Paula é incrível e se for bem explorada, dá pra ver muitas espécies incríveis.
Alguns registros feitos na região de São Francisco de Paula:
Foram 123 espécies encontradas nesses dias e muitas delas são exclusivas dessa região do nosso estado. A Mata Atlântica e a Serra Gaúcha são super importantes e na virada do ano vou colocar mais essa opção de roteiro no nosso site. Aproveitando, já clica aqui e veja nossos roteiros!!
Além da quantidade de espécies, vale ressaltar a quantidade de aves endêmicas e típicas dessa região, que pra mim é o que mais vale.
Eu nem sei como agradecer ao Xavier e ao Julio por esses dias incríveis que tivemos juntos. Quando eu os encontro, parece que estou com velhos amigos e que nos conhecemos desde que nascemos. É sempre muito, mas muito legal estar com eles e espero que em 2025 estejamos juntos novamente. Já estou com saudade dos pratos incríveis feitos pelo Julio nas noites frias da Serra Gaúcha. No mais, era isso! Em breve posto sobre as outras expedições de agosto!!
Ainda temos algumas datas disponíveis para expedições em 2024 aqui no Rio Grande do Sul.
Todas essas datas são ótimas pra visitar a região. Sempre gosto de lembrar que há voos diários de ida e volta aqui pra Pelotas, cidade onde sempre começamos e terminamos nossas expedições!
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