Por: Raphael Kurz
Que correria, meus amigos e leitores! Nesse último mês eu deixei atrasar bastante as publicações aqui no blog, mas não foi por preguiça ou falta de vontade, realmente foi falta de tempo. Nesse último mês, trabalhei muito e ainda tive a minha expedição pra Amazônia (pretendo escrever sobre isso aqui) e tenho parado apenas 1 ou 2 dias em casa, aí só dá tempo de reorganizar as coisas, lavar roupas e sair pra campo novamente. Na última sexta cheguei em casa e amanhã, na segunda-feira já estou indo viajar novamente e assim ficarei até a primeira semana de setembro. E isso é ótimo, mas é uma pena não conseguir atualizar as publicações como eu gostaria de atualizar por aqui. Mas enfim, vou correr esse mês pra deixar tudo atualizado!!
Sobre a expedição:
Assim como eu, o Daniel está fazendo o seu “Big Year”, ou seja, ele está querendo bater seu recorde de espécies observadas no período de um ano e em virtude disso, ele destinou 5 dias pra rodar pelo pampa comigo. Como o objetivo dele é observar e contabilizar espécies e não necessariamente registrá-las, acabamos fazendo umas “correrias” que não é de costume, mas o resultado foi incrível e conseguimos ver muita coisa boa nos 5 dias que estivemos juntos por aqui. Do dia 6 ao dia 10 de julho rodamos pela região da Campanha Gaúcha, fomos até o Parque Estadual do Espinilho e acredite se quiser, sobrou um tempinho pra dar uma volta em Rio Grande e aumentar essa lista de espécies pro Dani.
Bora falar sobre a passarinhada? Leia até o final do post!
Parque do Espinilho
O Espinilho é e sempre será o sonho de consumo de praticamente todo observador de aves que vem pro Rio Grande do Sul. O Parque abriga diversas espécies endêmicas que fazem a gente atravessar o estado de leste a oeste pra visita-lo.
No Parque do Espinilho, ficamos dois dias e enfrentamos dias extremamente frios. Eu prefiro trabalhar no frio que no calor, então isso não foi problema pra nós. Nessa nossa passagem por lá pudemos acompanhar uma baita novidade no Parque. Pela primeira vez apareceram 3 novos indivíduos de cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata) na sede. Enquanto estávamos caminhando, o Diuliano que é guarda por lá, me mandou uma mensagem dizendo que haviam cardeais-amarelos. Prontamente voltamos correndo para tentar vê-los. Foi incrível registrar um macho com resquícios de geada no seu topete. Foi a primeira vez que vejo um cardeal-amarelo na sede e acredito que será a última, já que eles não se encontram mais por ali e provavelmente estavam de passagem procurando um território.
Nesse momento aconteceu algo que atrapalhou um pouco nossa manhã. Na euforia de voltarmos correndo em direção a sede, o Daniel acabou perdendo o celular e quem já foi no Espinilho sabe que é uma missão quase impossível encontrar algo quando se perde já que não andamos em trilhas e o Parque tem uma paisagem praticamente igual em 100% do tempo. Com isso, passamos o resto da manhã tentando encontrar o celular do Dani sem sucesso. Ele foi até o hotel tentar conectar o gmail pelo notebook e tentar localizar o celular via GPS e infelizmente não conseguiu. Mas quem me conhece sabe que sou teimoso e enquanto não chegava a hora do almoço, resolvi ir procurar mais uma vez e não sei como, achei o bendito celular em meio a vegetação densa próxima da sede. Deu um alívio em saber que continuaríamos tranquilos procurando aves e não um celular durante a tarde kkkkk
Mas seguimos com as aves… Na parte da tarde voltamos para o Parque e fomos atrás das espécies que queríamos ver pela manhã. O destaque dessa tarde foi encontrar um casal de corta-ramos (Phytotoma rutila), ave migrante austral que nesse ano está bem complicado de se encontrar. Em anos anteriores encontrávamos vários casais, mas dessa vez não subiram muito indivíduos, fazendo com que esse encontro fosse muito comemorado. Poucos minutos depois, encontramos uma poça d’água abençoada, onde diversas espécies estavam bebendo e se alimentando por perto. Inclusive mais um casal de cardeal-amarelo. Foi muito massa ficar ali apreciando e entendendo um pouco mais do comportamento dessa espécie que adora esses campos limpos, onde encontra gramíneas e sementes pra se alimentar.
Nossa passagem pelo oeste do Rio Grande do Sul foi incrível e conseguimos ver praticamente todas espécies que procurávamos. Infelizmente o rabudinho (Leptasthenura platensis) e o tio-tio-pequeno (Phacellodomus sibilatrix) não consegui ver esse ano ainda, mas fico mais tranquilo que eles foram vistos recentemente por lá. Espero que voltem a aparecer com maior frequência daqui pra frente.
Na manhã que fomos embora, ainda tivemos um encontro com a linda águia-serrana (Geranoaetus melanoleucus), um dos rapinantes mais especiais da região.
Algumas espécies registradas na região do Espinilho:
Rio Grande e Campanha Gaúcha
Na região da Campanha haviam alguns lifers pro Daniel, então fomos bem objetivos em procurar as espécies que ele ainda não havia registrado. Rodamos por Pinheiro Machado, Bagé e Aceguá e como falei anteriormente, nos dedicamos única e exclusivamente em ver essas espécies novas pra ele. Em Pinheiro Machado, conseguimos ver muito bem o tio-tio (Phacellodomus striaticollis) e o arredio-do-gravatá (Limnoctites rectirostris), em Bagé rolou ótimos registros da marreca-parda (Anas georgica) e em Aceguá o objetivo era ver o caminheiro-de-unha-curta (Anthus furcatus) e deu certo. Eu caminhei bastante atrás dele, deu um pouco de trabalho, mas o Dani conseguiu vê-lo e fez ótimas fotos!
Em Rio Grande tivemos apenas um turno e fomos em áreas que fossem possíveis ver o maior número de espécies pro ano do Daniel e como sobrou um pouquinho de tempo antes de retornarmos pra Pelotas, resolvi passar numa área que eu havia visto a sanã-cinza (Laterallus spilopterus) algumas vezes. A expectativa era apenas ouvi-la, sem muita probabilidade…
Mas como energia boa sempre atrai coisa boa e como o Dani é daqueles observadores que tá sempre de sangue doce, as coisas tendem a acontecer com maior facilidade. Chegamos no local e logo já vimos um bando de sargento (Agelasticus thilius), também vimos o pedreiro-dos-andes (Cinclodes fuscus) e uma jovem viuvinha-de-óculos (Hymenops perspicillatus).
Mas seguimos falando da sanã… Eu tenho ido naquela área desde o ano passado e tenho tentado entender o comportamento desse bichinho que é mais que especial. De outubro em diante elas começam a vocalizar e se expor um pouco mais, mas são minúsculas e super rápidas, dificultando muito os registros. Uma coisa que já notei é que não adianta tentar chamar ela pra “borda” do banhado, tem que entrar no território dela e tentar mapear onde ela cruza correndo e tentar um registro.
Foi exatamente isso que fizemos, quando percebi que ela estava cruzando no local que estou acostumado a vê-la, perguntei pro Daniel: “Eaí, quer registrar a sanã?” Prontamente entramos na área de marismas e eu até molhei os pés, mas sempre acreditando que valeria a pena.
Eu já tinha “aberto” um caminho pra ela em meio ao banhado e posicionei o Dani para que ele pudesse tentar fazer ao menos algum registro. Em pouco tempo a danadinha começou a cruzar, mas ela era muito rápida e com aquele sentimento de tensão e euforia, acabávamos ficando sem conseguir algum registro decente… Até que teve um momento ali que ela facilitou e ficou alguns segundos parada, fazendo a nossa alegria!
Esse é daqueles momentos que a gente se abraça e comemora o êxito de registrar uma espécie enigmática. Foi incrível terminar a expedição vendo e registrando a espécie mais rara desses 5 dias.
Alguns registros feitos na Campanha Gaúcha e em Rio Grande:
Como o objetivo era ver o maior número de espécies, eu e o Daniel rodamos esses dias “no pique Big Day”. Tentando parar e ouvir espécies no maior número de ambientes possíveis, pra tentar aumentar a quantidade de espécies observadas. O Daniel é exatamente igual a mim como observador de aves, realmente somos muito parecidos. Não falo na questão de querer ver o maior número de espécies, mas pelo fato de que se não der pra fazer uma foto, tá tudo certo. Já valeu a oportunidade em vê-la ou ouvi-la em seu habitat. Juntos, conseguimos ver 168 espécies e muitas delas endêmicas ou típicas do bioma pampa, aumentando muito a lista anual do Dani.
Agradeço demais ao Daniel por confiar no meu trabalho e retornar ao Rio Grande do Sul um ano depois da primeira visita. Juntos, conseguimos ver muitas espécies legais e observar o comportamento delas, que é muito massa. Aquela cena das CAPOROROCAS ano passado é inesquecível e esse ano teve esses registros incríveis do cardeal-amarelo e da sanã-cinza que com certeza marcaram a expedição.
Valeu por tudo, irmão! Até a próxima!!
Ainda temos algumas datas disponíveis para expedições em 2024 aqui no Rio Grande do Sul. Todas essas datas são ótimas pra visitar a região. Sempre gosto de lembrar que há voos diários de ida e volta aqui pra Pelotas, cidade onde sempre começamos e terminamos nossas expedições!
Datas disponíveis:
- 03 a 09 de setembro;
- 30 de setembro a 04 de outubro;
- 07 a 21 de outubro;
- 09 a 20 de dezembro.
Obrigado à você que leu até o final, até a próxima.
Contatos:
Email: contato@avesdosul.com.br
WhatsApp: (53) 981079229