DIÁRIO DE GUIA: Elaine e João Sá

Por: Raphael Kurz

Que correria, meu Deus… Mas vamos atualizar o blog pra não acumular trabalho pro final do ano!! Sim, eu sempre começo os relatos conversando comigo mesmo e aos poucos vou me concentrando e conseguindo externar o que foram as passarinhadas por aqui…

Novembro é sempre um mês cheio de trabalho por aqui. Terei apenas 4 dias de folga durante esse mês e em cada um deles tentarei escrever sobre as expedições que participamos. Seja de casa, do hotel ou até mesmo do ônibus, vou tentar deixar tudo atualizado pra não me atrapalhar igual ano passado que deixei 8 posts atrasados e escrevi tudo na correria. Enfim, bora lá?

Sobre a expedição:

Conheci o João e a Elaine no Avistar desse ano e por lá, conversamos sobre uma possível vinda deles pra cá. O tempo passou e começamos a viabilizar isso! Foi a primeira viagem deles pra passarinhar fora de São Paulo e fico feliz que tenham começado aqui pelo sul. Num ótimo lugar pra passarinhar. Além disso, a época escolhida foi perfeita, já que na primavera a bicharada está super ativa por aqui. Ficamos juntos durante 4 dias (2 ao 5 de novembro) e percorremos por Rio Grande, Pelotas e Campanha Gaúcha.

Foi uma expedição cheia de surpresas. E quando falo isso é porque realmente foi!! Eu, Raphael, fiz 2 lifers!! Aí já dá pra ver que foi diferente do habitual, né? Leia até o final do post pra ver a bicharada que encontramos!

Campanha Gaúcha

A região da Campanha Gaúcha é rica em espécies e todo mundo já sabe disso e nosso objetivo é sempre tentar mostrar pra quem vem pra cá, as principais espécies da região de acordo com a época. E na primavera há chances de ver algumas aves incríveis, como o caboclinho-de-papo-branco (Sporophila palustris), um das aves mais legais que encontramos na nossa região e que fica por aqui até meados de fevereiro. Além dele, conseguimos ver muitas aves legais, como o endêmico arapaçu-platino (Drymornis bridgesii), a rara perdiz (Rhynchotus rufescens) e as marreca-caucau (Nomonyx dominicus) que deram um show!

Visitamos Pinheiro Machado e Bagé, e mesmo com o clima bastante adverso, conseguimos encontrar uma bicharada massa.

Algumas espécies registradas na região da Campanha Gaúcha:

Rio Grande

Nem vou falar o quanto é bom passarinhar em Rio Grande pra não ficar repetitivo, mas dessa vez foi melhor que o habitual. Ficamos apenas um dia em Rio Grande e já foi o suficiente pra ver muito bicho massa! Costumo dizer que os dias nublados são sempre os melhores para se observar aves por aqui. As aves ficam bem mais ativas e acabam se expondo mais, facilitando com que a gente consiga registros de espécies consideradas raras ou de difícil encontro. Quando está nublado eu já otimista e sei que pode aparecer coisas diferentes e nesse dia apareceram duas espécies que eu até então, nunca tinha visto antes…

Uma delas, o papa-lagarta-cinzento (Micrococcyx cinereus), foi encontrado pelo Fernando Jacobs durante a semana e tinha me avisado, mas acabei não conseguindo ir e deixei pra tentar a sorte durante essa passarinhada com o João e a Elaine. Fomos até a área que ele viu esse indivíduo e conseguimos registrá-lo. Lifer pra todos, até pra mim que rodo dezenas de dias por ano nessa estrada. Agradeço ao Fernando pela parceria de sempre e por me avisar da ocorrência da espécie por ali.

A outra raridade foi uma ave que eu sempre quis ver. Quem me conhece sabe o quanto sou apaixonado por anatídeos (patos, marrecas e gansos) e essa era a única espécie dessa família que eu ainda não tinha visto aqui por Rio Grande… Entrei pela segunda vez numa estrada e por lá estávamos passarinhando e encontrando alguns casais de marreca-colhereira (Spatula platalea), espécie bastante incomum. Mas nesse ano está sendo bem tranquilo de encontrá-la em diversos locais de Rio Grande.

Até que notei uma movimentação estranha de um casal de marrecas pousando e a primeira impressão que tive é que era mais um casal de colhereiras, mas na hora bateu aquela vozinha no fundo da mente dizendo: “Volta lá que não são marrecas-colhereiras”. Prontamente parei  o carro e dei ré. Comentei com eles que podia ser uma marreca super rara e o João prontamente tirou a câmera pra fora até que nos aproximássemos desse casal. Quando percebi que se tratava da marreca-colorada (Spatula cyanoptera), eu fiquei muito entusiasmado e o João sentou o dedo e clicou ela muito bem!! Fez um fotão de uma das marrecas mais raras do Brasil.
VEJA A FOTO DO JOÃO CLICANDO NESSE LINK.

Eu corri pro carro pra pegar a câmera e consegui fazer um registro mais ou menos, mas o que valeu foi o momento e conseguir perceber que se tratava de uma raridade. Nessa última semana consegui registrá-la novamente em outro local de Rio Grande, totalmente afastado dessa primeira área. E geralmente é assim: Depois que tu vê a ave pela primeira vez, tu começa a ver ela com mais frequência, não é mesmo? Enfim, que se torne rotina encontrar essa marreca por aqui.

Além dessas duas espécies, deu pra ver várias espécies legais em Rio Grande, como sempre…

Alguns registros feitos em Rio Grande:

Serra dos Tapes – Pelotas e Morro Redondo

Nosso último dia de passarinhada foi dedicado as espécies aqui de Pelotas e do Morro Redondo. Como por aqui é uma nítida transição da Mata Atlântica com o Pampa, conseguimos rodar por alguns ambientes diferentes e com isso, ver diversas espécies de aves em seus habitats.

Na parte da Mata Atlântica, fomos na arena do beija-flor-de-topete-azul (Stephanoxis loddigesii) e por ali, o João fez excelentes fotos e vídeos dessa espécie que é um dos mais belos beija-flores do Rio Grande do Sul. Seguimos até o município do Morro Redondo e por lá fomos num fragmento de Mata Atlântica relativamente bem preservado e conseguimos ver espécies como o vira-folha (Sclerurus scansor), o cabecinha-castanha (Thlypopsis pyrrhocoma) e ouvimos o inhambuguaçu (Crypturellus obsoletus) vocalizar, espécie bem rara na nossa região. O desmatamento e a caça praticamente acabaram com essa espécie por aqui, infelizmente.

Na parte da tarde voltamos pra Pelotas e fomos até a Praia do Laranjal, no Pontal da Barra. Por ali conseguimos ver as aves de banhado/juncal. Com destaque pro socoí-amarelo (Ixobrychus involucris), pro beija-flor-dourado (Hylocharis chrysura) e é claro, pro rei dos juncos, o papa-piri (Tachuris rubrigastra).

Alguns registros feitos nesse dia:

Como de costume, eu sempre vou “listando” tudo que vai aparecendo durante a viagem e isso vai enriquecendo e ajudando a detalhar tudo que vamos fazendo durante os dias. Essas listas são super importantes para que eu consiga organizar os posts aqui no nosso blog e com base nesses dados, deu pra ver que nessa viagem, encontramos 171 espécies de aves em 4 dias de expedição.
Vale ressaltar que muitas dessas espécies são endêmicas e algumas bem raras, o que valoriza ainda mais a viagem.

 

Agradeço de coração ao João e a Elaine pela parceria durante esses dias. É sempre bom receber casais por aqui. Ainda mais quando o casal regula de idade comigo e os papos encaixam como se fossemos velhos amigos e conhecidos. A geração anos 90 não é fraca e o espírito 5ª série se fez presente durante toda nossa viagem. Além das bobagens e risadas, tivemos diversas conversas bem produtivas e que com certeza, acrescentarão demais no crescimento da Aves do Sul como empresa.

Obrigado por tudo e logo estaremos juntos no Avistar falando umas bobagens e marcando mais passarinhadas!!

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