DIÁRIO DE GUIA: Edu, Leila e Ricardo

Por: Raphael Kurz

Bora falar de mais uma expedição por aqui? Uma expedição que mais pareceu um passeio, de tão prazerosa e proveitosa que foi… No início de novembro de 2022, tive a oportunidade e a honra… Sim, a honra de receber esse trio de amigos pra lá de especial que foi o Carlos Eduardo Veríssimo, o Ricardo Monti e a querida, Leila Esteves. De antemão, agradeço ao Climério Brito por me indicar pra conduzir esse pessoal nota 10 aqui pelo bioma pampa!!

Antes de falar sobre a viagem, vou deixar aqui abaixo o perfil de cada um deles no WikiAves:
Leila – Perfil Leila Esteves
Ricardo – Perfil Ricardo Monti
Edu – Perfil Edu

Sobre a viagem

Tínhamos pouco mais de 5 dias pra percorrer uns bons quilômetros atrás das principais espécies da Campanha Gaúcha e da Lagoa do Peixe, que era o destino principal para a tour.
Na nossa primeira tarde, ficamos aqui por Rio Grande pra ver as migrantes de verão que já estavam por chegar. No início de novembro as limícolas migratórias do hemisfério norte já estão “com tudo” por aqui e é sempre uma boa oportunidade de vê-las…
Mas a viagem começou mesmo quando fomos para a região da Campanha Gaúcha, tínhamos como objetivo ver algumas espécies beeeem restritas ao sul e tentei montar tudo certinho pra otimizar a nossa passagem pela região.

Campanha Gaúcha

Em Pinheiro Machado, passamos numa área urbana pra ver a pomba-do-orvalho (Patagioenas maculosa), uma das mais belas pombas do Brasil e é uma espécie endêmica do bioma pampa. Conseguimos encontrá-la e logo após, fomos atrás do veste-amarela (Xanthopsar flavus), espécie ameaçada pela perda de seu habitat. Em novembro, é possível encontrar algumas áreas que a espécie usa pra reprodução e tem um local que geralmente tem um ninhal ativo nessa época… Fomos até lá e golaço, conseguimos encontrá-lo e além dele, rolou um registraço do arredio-do-gravatá (Limnoctites rectirostris), mais outro ameaçado aqui do pampa.
Manhã concluída com sucesso! Seguimos pra Bagé…
Em Bagé, o objetivo principal era marreca-oveira (Mareca sibilatrix), espécie que se reproduz no RS nessa época do ano e uma das marrecas mais raras de se encontrar no estado. Chegamos no local na metade final da tarde e adivinha? Ela não estava lá! Mas normal, faz parte… Como eu já sabia que o comportamento dela era voar de um açude pro outro com certa frequência, propus que ficássemos por ali, escondidos e fotografando outros bichinhos que iam aparecendo na bordinha de mata que tem na área. Enquanto estávamos concentrados nessas espécies “menos importantes”, resolvi dar uma olhada no açude e adivinha? As duas marrecas estavam ali, bem belas nadando… Avisei o pessoal e eles vieram e aconteceu o que sempre acontece quando não pode acontecer kkkk Um deles (não lembro qual), ficou sem bateria e acabou que ninguém fez foto, mas faz parte… Natureza é assim mesmo!
Não desistimos, nos escondemos e ficamos concentrados somente nelas, até que um bom tempo depois, elas retornaram e fizeram a alegria de todo mundo, foi um final de dia e início de expedição nota 10, todos sorrindo e contentes!!

Encerramos nossa passagem pela Campanha e seguimos para a Lagoa do Peixe!

Lagoa do Peixe

Ai ai, a Lagoa do Peixe sabe encantar né? Eu começo ver as listas do eBird aqui e revivo esses momentos, lembro de coisas que acontecem raramente e essa viagem teve MUITO disso, muita coisa nova e principalmente, muita coisa rara (que é importante).
No nosso segundo dia, chegamos na Lagoa do Peixe no meio da tarde e fomos para a famosa trilha do Talha-Mar e em novembro, essa estrada está com um volume de água muito alto, fazendo com que várias espécies de maçaricos, marrecas e outras aves aquáticas fiquem bem próximas da estrada e nesse dia, tivemos a oportunidade de ver uma cena muito massa, o pisa-n’água (Phalaropus tricolor) com seu comportamento muito peculiar de ficar “girando” na superfície da água na procura de alimento, eu já tinha visto isso outras vezes, mas pro pessoal foi muito massa observar isso. Além dele, outros maçaricos estavam no mesmo local, como o maçarico-pernilongo (Calidris himantopus), outra espécies incomum na Lagoa do Peixe.
Mas o grande dia, foi na Barra da Lagoa do Peixe. A missão era muito difícil, encontrar a rara e ameaçada sanã-cinza (Laterallus spilopterus). Ainda lembro que quando a Leila me chamou pra conversar sobre uma possível vinda, essa era uma das espécies que ela mais queria ver e eu ainda expliquei falando que era uma das espécies mais raras, mas a época era muito propícia pra encontrá-la…
Enfim, vamos lá… Chegando na Barra, eu combinei com eles que eu sairia caminhando sozinho atrás da sanã (sim, sozinho). Gosto de fazer isso porque consigo me concentrar mais na vocalização dela (que é muito baixa) e que dessa forma eu não dou trabalho pra eles caminharem no meio do banhado se atolando a todo momento… Combinei que se eu encontrasse, eu ligaria pra eles e eles me encontrariam e enquanto eu faria isso, eles ficavam se servindo fotografando aquele bandos imensos de maçaricos na praia… Caminhei cerca de 4km atrás da danada e quando eu já pensava em desistir, ouvi a vocalização dela e prontamente chamei eles e esperei-os na área dela.

A saga da sanã-cinza

Essa sanã é assim mesmo, sempre difícil de se registrar. Além de ser minúscula, o ambiente lamacento + o nervosismo, dificultam bastante o registro. Sim, geralmente quem está de cara a cara com ela, não consegue manter a calma e acaba perdendo o registro, isso é super normal acontecer e nessas horas o guia tem que agir como psicólogo kkkk mas faz parte do jogo. Nos posicionamos numa área que eu acreditava que ela fosse cruzar e eu até me sentei no meio do barro (estou acostumado) e fiquei tocando o playback bem baixinho, até que a danada começou a vocalizar e rapidamente cruzava na nossa frente. Esse seria o momento que teríamos para fazer as fotos, até que ela começou a dar bastante mole e ficava parada alguns segundos próximo da caixinha de playback, facilitando o que geralmente é muito difícil… O melhor sentimento do guia é olhar no display da câmera dos clientes e ver aquelas super fotos de espécies super difíceis e nesse dia não foi diferente…
Retornamos para a Barra até que encontramos a Carmen Bays com seu marido, sendo guiados pelo Eloir, que além de artesão é um SUPER guia na Lagoa do Peixe… A Carmen e a Leila são amigas há uns bons anos e comentamos que havíamos encontrado a sanã e a Carmen já quis ir atrás com o Eloir. Lembro que antes de irmos embora da área dela, eu cravei uma estaca na lama, pra marcar o ponto. Expliquei tudo direitinho pro Eloir e ele partiu com o pessoal atrás da bichinha, que estava muito fácil naqueles dias. Encerrando a saga da sanã e ficamos sabendo que a Carmen fez um fotaço, que tu pode ver clicando nesse link: Foto Carmen.

Ufa! Acho que nunca escrevi tanto por aqui e recém estamos na metade da viagem, prometo que agora vou ser ser o mais breve possível!
Tem algumas espécies que são super comuns Brasil à fora, mas que aqui não são tão comuns, como a marreca-toicinho (Anas bahamensis), encontramos alguns indíviduos junto de um bando de marrecas e foi a primeira vez que eu, Raphael, vi essa espécie em solo gaúcho. E falando em marrecas, outra que deu show nessa viagem foi a marreca-colhereira (Spatula platalea), outra espécie que nidifica por aqui nessa época (outubro e novembro).

É impossível resumir o que é a Lagoa do Peixe e as espécies que encontramos por aqui, mas abaixo vai algumas fotos das espécies que foram vistas nesses dias

Encerramos a expedição com um excelente número de espécies registradas, se quiser ver todas elas e identificar uma ou outra ave das fotos, clica no link: https://ebird.org/tripreport/83318 e acesse nossa Trip Report no eBird.

Agora uma observação sobre essa situação da sanã-cinza… Acredito que nenhum guia ou passarinheiro possa prometer e garantir que alguma ave vá ser encontrada, geralmente isso termina em frustração e dor de cabeça, porque a pessoa chega achando que é certo, sendo que não tem como saber ao certo se vai aparecer ou não. Lembram da história dos flamingos no Parque das Aves, que a onça entrou no cativeiro e matou todos? Pois é, imagina a pessoa que comprou o ingresso pra visitar o Parque um dia antes do ocorrido achando que fosse ver os flamingos lá? Se nem em Parques a gente pode garantir, imagina em vida livre…
Mas dá pra trabalhar com probabilidade… E geralmente se a gente tem noção da época correta pra ver certas espécies, essas possibilidades tendem a aumentar, concorda? Foi o caso dessa sanã. Pelo pouco que sei, o melhor período para ver ela é setembro/outubro/novembro. Depois que seca, já era. Ao menos nessas áreas que eu tenho encontrado um ou outro indivíduo…
“Mas porque tu tá escrevendo isso, Raphael?” Eu sei lá, só me deu vontade de escrever porque já ouvi várias vezes sobre isso, daí me deu a louca aqui kkkkk

Enfim, termino essa publicação agradecendo imensamente à esse trio nota 10 que sim, entrou no meu TOP3 de parcerias pra guiadas/passarinhadas. Foi um prazer estar com vocês, conhecer cada um de vocês e dividir um pouquinho da minha experiência de vida nesses poucos dias juntos. Que em breve a gente se encontre no Avistar!!

Tenho disponibilidade para o mês de março ainda, mais precisamente para os dias 11/03 ao 20/03, ótima época pra visitar a Lagoa do Peixe e ver as aves limícolas migratórias. Há outras datas disponíveis ainda esse ano, visite a minha agenda clicando AQUI.

Curta, compartilhe e deixe um comentário. Ajude o Aves do Sul a crescer um pouquinho, porque dá muito trabalho escrever aqui pra poucas pessoas lerem, né? Hahahaha

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