Por: Raphael Kurz
Buenas, pessoal! Mais uma vez aproveitando um tempinho entre um campo e outro pra escrever e atualizar o blog. Nesse momento estou aqui em Bagé e como a internet aqui do hotel é relativamente boa, vou conseguir escrever um pouco mais. Os últimos dias tem sido de bastante correria aqui no Rio Grande do Sul, muitas passarinhadas e expedições atrás da bicharada e infelizmente eu acabo ficando sem tempo e com um cansaço mental absurdo que faz com que eu perca um pouco a vontade de escrever, mas bora lá que essa expedição foi sensacional!
Sobre a expedição:
Bueno, o George entrou em contato comigo no ano passado e agendamos a expedição justamente pras datas que ocorreram as catástrofes (chuvas e alagamentos) aqui no Rio Grande do Sul. No Avistar, nos encontramos e lá pude conhecer ele pessoalmente, com um sentimento de culpa por não poder recebe-lo na data que havíamos marcado inicialmente. Mas como era inviável, acabamos remarcando e ficamos uma semana juntos no final de junho (25/06 à 01/07).
Juntos, rodamos pelo roteiro que eu particularmente mais gosto. Que sai de Rio Grande, cruza pela Campanha Gaúcha e vai até o Parque do Espinilho, em Barra do Quaraí. Ainda mais no inverno, época propícia pra ver uma bicharada de inverno que eu acho sensacional. Fora a luz né… A luz do inverno aqui no Rio Grande do Sul é IMBATÍVEL e nas fotos desse post você poderá ver isso.
Bora falar sobre a passarinhada? Leia até o final do post!
Campanha Gaúcha
Iniciamos nossa expedição pela região da Campanha Gaúcha e nossa primeira parada foi em Pinheiro Machado e fomos muito bem recebidos por um casal de cardeal-do-banhado (Amblyramphus holosericeus) que apareceram naquela área pela primeira vez e facilitaram muuuuuito para as nossas lentes. Isso já era prenúncio de uma boa viagem? Não sei, mas começamos com o pé direito. Na mesma área, o tico-tico-do-banhado (Donacospiza albifrons), o arredio-do-gravatá (Limnoctites rectirostris) e o bico-duro (Saltator aurantiirostris) se exibiram muito e como a luz estava perfeita, deu pra fazer excelentes registros. Engraçado que hoje estive lá de novo e deu pra fazer fotos tão boas quanto essas desse post, mas isso é assunto pra outra publicação.
Além de Pinheiro Machado, rodamos por Bagé e Aceguá. Em Bagé deu pra ver uma bicharada massa, como de costume. Por aqui, os ralídeos deram show, como a saracura-do-banhado (Pardirallus sanguinolentus) e a bela galinha-d’água-carijó (Porphyriops melanops) que sempre aparecem muito bem de julho em diante.
Como falei pro George, em Aceguá eu peguei o meu maior frio durante uma expedição. Eu não lembro ao certo qual temperatura estava naquele dia que estávamos rodando pelas áreas de campos abertos em Aceguá, mas o vento chegava a cortar e esse excesso de vento faz com que a sensação térmica caia bastante e além disso, o vento atrapalha bastante durante nossas passarinhadas, é muito pior que a chuva, sem dúvidas. Mas em Aceguá, ao menos rendeu um registro bem legal do belo e pequenino picapauzinho-carijó (Picumnus nebulosus), espécie restrita a região sul do Brasil.
Algumas espécies registradas na região da Campanha Gaúcha:
Parque Estadual do Espinilho
Ah, o Espinilho no inverno… O Espinilho e seu entorno sempre são uma surpresa e podem trazer consigo algumas coisas bem legais. Logo na nossa chegada em Barra do Quaraí, encontramos uma águia-serrana (Geranoaetus melanoleucus) que praticamente nos deu boas vindas na região. No Parque, como sempre, fomos acompanhados pelos funcionários que auxiliam bastante durante nossas idas à campo e juntos, sempre vamos atrás das aves. Além de facilitarem nossa vida, os papos com o Bruno e com o Maurício são sempre excelentes e deixam mais leves nossas caminhadas atrás das aves.
Enfim, no Parque o objetivo principal tem nome: cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata) e sempre que vamos até lá, dedicamos a primeira manhã para encontrá-lo. Dessa vez conseguimos vê-lo numa área que costumamos visitar e na hora que estávamos indo embora, avistei um outro macho, que até então não havia aparecido no Parque. Mas como sei que não? Porque ele não estava anilhado, como os outros indivíduos que estão por lá. Fiquei super feliz por saber que havia possibilidade de haver outros indivíduos rodando por lá. A minha alegria se confirmou alguns dias depois, quando retornei ao Parque e encontramos mais três cardeais-amarelos por lá. Mas isso também é assunto pro próximo post.
Além do cardeal-amarelo, há outras aves incríveis no Parque Estadual do Espinilho e o lenheiro (Asthenes baeri) é uma delas. Essa é uma espécie que tem ocorrência apenas no Rio Grande do Sul e é sempre um dos “nossos alvos” no Parque.
Por fora do Parque, há possibilidade de ver outras espécies de outros ambientes, como a gralha-picaça (Cyanocorax chrysops), o cavalaria (Paroaria capitata) e o graveteiro (Phacellodomus ruber), espécies que eu nunca vi dentro da área do Parque, apenas no seu entorno.
Enfim, o Parque do Espinilho é sempre incrível, ainda mais no frio do inverno.
Alguns registros feitos no Parque do Espinilho:
Rio Grande e Serra dos Tapes
A parte final da nossa expedição foi na região de Rio Grande, que eu não canso de dizer que é o melhor lugar do Rio Grande do Sul pra se observar e fotografar aves. Mas porque é o melhor local? Em Rio Grande há diversas espécies de aves e ambientes diferentes, fazendo com que a gente aumente a possibilidade de encontrar certas espécies que são bem difíceis de serem vistas noutros locais que elas ocorrem. Além disso, em Rio Grande há muitas estradas que cortam banhados e locais que são excelentes pra ver as aves. Ainda mais nessa época com bastante água.
Enfim, em Rio Grande aproveitamos bem o dia e conseguimos ver muitas espécies legais de inverno, como a andorinha-chilena (Tachycineta leucopyga), que é lifer pra 99% das pessoas que vem aqui pro Rio Grande do Sul. Além dela, o joão-da-palha (Limnornis curvirostris) deu um show e permitiu ótimas fotos no início da manhã.
O cisne-de-pescoço-preto (Cygnus melancoryphus) é outra espécie que está super fácil de se fotografar por aqui nessa época de cheias, há vários casais próximos a algumas estradas e se formos na hora certa (de sol e de luz), conseguimos excelentes registros, como esse da galeria abaixo.
Em Pelotas, fomos atrás do beija-flor-de-topete-azul (Stephanoxis loddigesii), ainda tá muito cedo pras arenas reprodutivas, mas conseguimos ver um indivíduo que facilitou bastante também.
Aproveitamos pra dar uma rápida passada pelo Sítio Flor & Osória pra ver as aves no comedouro e deu pra ver até o beija-flor-de-papo-branco (Leucochloris albicollis) que aparece por aqui apenas no inverno.
Alguns registros feitos em Rio Grande e na Serra dos Tapes:
Juntos, conseguimos ver 173 espécies nesses dias. Muitas delas com ocorrência restrita ao Rio Grande do Sul, que pra mim é o que mais vale. Nem todas foram registradas, é claro. Mas o nosso Trip Report no eBird ficou bem legal.
De coração, agradeço ao George por esses dias incríveis juntos. Eu costumo dizer que o que mais gosto no meu trabalho em campo, é conhecer boas pessoas, contar e ouvir boas histórias e é claro, trocar boas experiências. Com o George, o kit foi completo. Pensa num cara gente boa que vale a pena conhecer? Essa cara é o George. Mas não vou dar muita moral porque é corintiano e hoje fiquei sabendo que enfrenta o meu Grêmio na Copa do Brasil kkkkkk
Mas de verdade, obrigado por tudo meu amigo. Espero que em breve possamos nos reencontrar pra ver algumas espécies em algum lugar desse Brasilzão ou aqui no Rio Grande do Sul novamente.
Algumas pessoas me perguntam como eu consigo tempo pra fazer tudo que faço, como postar no instagram todos os dias, estar em campo, responder um monte de coisas no WhatsApp e escrever aqui. Eu confesso que não sei como consigo fazer tudo isso ainda, mas se tem uma coisa que gosto de ler com o decorrer dos anos é o que escrevo aqui. Além do eBird, a coisa que mais me dá prazer depois das saídas é tentar relatar aqui o que foi visto em campo. Mas confesso que dá muito trabalho separar e renderizar fotos e tuuuudo mais que envolve escrever aqui. Estar inspirado é uma dificuldade absurda. Tem dias que sento em frente ao notebook e a criatividade não vem, aí vou procrastinando e deixando pra depois… Mas sigo firme aqui até eu aguentar… Dá trabalho, mas acho massa!
Se gostou do texto, compartilha e me dá uma força, vá que desperte a vontade de alguém vir observar aves no Rio Grande do Sul, né?
Falando nisso, já estou com a agenda aberta pra 2025. Não deixe pra pensar em vir pra cá em cima da hora! E volto a repetir: Há voos diários para Pelotas, que é minha cidade. Então sempre começamos as viagens por aqui e retornam pra casa por Pelotas. Aéreo não é um problema pra passarinhar no Rio Grande do Sul. Bora passarinhar conosco? Estamos preparados pra te receber da melhor maneira possível!!
Obrigado à você que leu até o final, até a próxima.
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